A VIDA RENOVADA EM DEUS

O SENHOR RESSUSCITOU VERDADEIRAMENTE

ALELUIA!!!

 A Páscoa da Ressurreição deste ano teve um sabor diferente. Cristo ressuscitado continua vivo nas nossas vidas. A Ressurreição não é uma teoria ou acontecimento do passado mas uma vivência que em cada dia e em cada ano celebramos não apenas para recordar ou cumprir o calendário litúrgico, mas celebrá-la como experiência fundante da fé que renova o nosso compromisso de vida vivida em Cristo Jesus que nos revitaliza e restitui à vida da graça e pertença a Deus que nasce, cresce, morre, ressurge e faz-se Espírito para melhor marcar a sua presença entre nós de forma eficaz e verdadeira, por meio de acontecimentos reais em que se celebra a vida desde o mais profundo do nosso ser. Isso mesmo experimentei nesta Páscoa da Ressurreição: a cantar o Aleluia da Victória com a presença de 4 jovens na nossa comunidade.

Foi um reviver de há 21 anos atrás quando chegaram bebés e hoje celebro com elas a alegria e a gratidão ao Deus da vida que as tem guiado e protegido. É Deus que se faz presente. Hoje apenas vejo a ação d’Ele na vida dessas “bebés”, por isso, desde do mais profundo do meu ser, solta um canto de louvor: Gloria a Deus nas alturas!! A Ele a honra e o louvor! Quem são afinal essas “pequeninas” de Deus e porque me alegra tanto a sua presença na minha vida? Vou tentar partilhar um pouco sobre cada uma delas:

A guerra em Angola deixou muitos órfãos e famílias divididas, mortes, refugiados e fome. Foi nessas condições que as nossas meninas de ouro chegaram a nós na nossa comunidade missão Católica de Kalandula. A presença das Irmãs MDR nessa comunidade foi uma bênção para muitas famílias refugiadas da guerra. Kalandula era chamada de missão da resistência. Em 2002, após a assinatura dos Acordos da Paz, muita gente saia das matas acudia à missão a pedir socorro, apoio sanitário ou o internamento de doentes em estado grave. Também nos traziam muitas crianças órfãs recém-nascidas. Nessa altura tínhamos no internato mais de 20 meninas e mais de 15 meninos sob o nosso cuidado, com a idades entre os 20 e os 4 anos, cada criança vinha com a sua história. Uns eram órfãos, outros os pais foram falecendo na missão e as irmãs fizeram o funeral e assim foram acolhidos no internato, outros tinham pais que haviam fugido da guerra e nunca mais aparecerem. Mas o caso dessas meninas foi diferente. Tudo começou depois de chegar a Paz, em abril de 2002, em que as pessoas que estavam escondidas e refugiadas nas matas iam regressando para as aldeias de origem, todas elas fragilizadas pelas anemias, doenças crónicas e desnutrição, não tinham nada, nem alimentos, nem sal, nem óleo, nada!…

Logo nos primeiros meses a seguir à Assinatura dos Acordos da Paz, recebemos na nossa comunidade a Maria Manuela (Ya), com 18 meses e com ela vinham outros 6 irmãos. A Maria Manuela chegou num estado de saúde muito crítico e com avançado estado anemia. Na primeira noite que passou connosco teve que ser internada de emergência no hospital, foi necessária uma transfusão de sangue e a intervenção de muita gente para salvar a vida desta linda menina. Aos poucos foi recuperando e crescendo com bom físico e humor.

A Palmira (Camila) também a recebemos com um ano de vida, mas parecia ter apenas um mês de vida devido e desnutrição generalizada que tinha. É órfã, a sua mãe morreu a seguir ao seu nascimento, ficando aos cuidados da avó que também veio a falecer meses depois, afogada no rio com a bebé Palmira às costas. Poi por milagre que a Palmira se salvou. As pessoas que passavam por perto socorreram as duas salvando a Palmira e trouxeram-na para o internato, porque não havia outro familiar para cuidar dela.

A Alexandra (Baby) é também órfã. A sua mãe morreu após o parto e a bebé foi acolhida pelas Irmãs da comunidade de Malanje. Devido ao estado grave de saúde que a bebé apresentava as Irmãs deram-na para adoção numa família e faziam o acompanhamento e assistência a partir da família. Anos depois faleceu a senhora que a cuidava. Precisando ainda de cuidados e assistência as Irmãs acolheram-na comunidade para e depois juntou-se às outras crianças de Kalandula, que a acolheram como uma irmã.

A Serafina (Fininha) também é outra história, esta não é órfã. A sua mãe teve uma depressão pós-parto e o que queria era asfixiar a bebé. Depois de muitas tentativas para matar a criança, num belo dia foi enterrá-la num buraco, graças às pessoas que passavam por perto naquele momento, foi socorrida e trouxeram-na para o hospital da Missão acompanhada do pai e também da mãe para ser submetida a tratamento. Pelo estado de saúde da mãe a Fininha acabou ficando connosco, porque precisava de cuidados especiais de saúde para sobreviver.

Atualmente estas jovens estão integradas em famílias generosas que as acolheram como filhas, cuidando delas e custeando seus os estudos. Duas estão já no 2º ano da universidade e as outras duas a terminar o Ensino Médio em Enfermagem. Entre elas têm um laço de irmandade muito grande. Inseparáveis, amam-se como se fossem irmãs de sangue. Todas têm um sonho comum: criar um espaço para acolher crianças necessitadas. É Deus que vai operando maravilhas e vai apontado caminhos!! Esta foi uma experiência muito marcante para mim. Porque a minha preocupação foi sempre, qual seria o futuro dessas crianças? Ao vê-las hoje, só tenho é que agradecer a Deus autor de tudo!

Salvar vidas é o nosso lema. O lema que nos motivou como MDR na missão de Kalandula. Tudo pela vida!

Rita João

Viana – Angola

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