EDUCANDO CONTRACORRENTE
- Hnasmdro
- julio 2, 2024
- Experiências MDR
- 0
- 78
Todas as manhãs são um novo começo nos caminhos que nos levam à aventura educativa. Chamo-o aventura, porque é o que significa para nós, Missionárias Dominicanas do Rosário, a experiência vivida na Zurza, no Projeto Educativo Solidariedade entre irmãos “Solher”.
Caminhando entre bananeiras, mangueiras, abacateiros, repolhos e, queria não dizer, mas também entre lodo e lixo, começa o nosso itinerário educativo todos os dias no mercado da Zurza, Santo Domingo, Distrito Nacional da República Dominicana. Neste bairro conflui e reside uma grande população haitiana. No nosso centro educativo trabalhamos com cerca 45% de crianças de origem haitiana. Os “santos”, costumamos dizer-lhes, porque apesar da dura realidade que vivem as suas famílias, com situações de violência, pobreza, sobrelotação, marginalização, drogas, a que se junta a ameaça latente de ser recolhidos pelas autoridades migratórias; são meninas e meninos cheios de energia, bondosos, solidários e cheios de amor. Os seus olhos vivazes e o seu espírito inalterável nos contagiam e animam a assumir com eles o desafio de formá-los, educá-los para a vida, uma vida que possa ser melhor do que a que puderam ter os seus pais e mães. Esta dura realidade, marca a muitos de maneira profunda e triste, mostrando-se rebeldes, necessitados de amor e sobretudo de ser protegidos da esmagadora discriminação que sofrem, de serem excluídos por um sistema educativo insuficiente para os dominicanos e, mais ainda, para os haitianos residentes neste país.
Grande parte das crianças com as quais trabalhamos diariamente, estão carregadas de feridas pelas diferentes realidades que lhes toca enfrentar, na vulnerabilidade dos diferentes contextos onde se desenvolvem, de maneira específica nas suas respetivas famílias. Esta realidade cada dia nos deixa cheias de impotência. No entanto, isso é o que nos comove e empurra a ser um centro educativo que marque positivamente a vida de cada estudante, a ser um espaço diferente, que alivia o seu peso. Essa dor latente nos empurra cada dia a ser um espaço onde não atuamos desde a pena, senão desde do respeito, dos seus direitos e sua dignidade de pessoa. Move-nos o desejo continuo de ser uma escola que se converta num espaço de semear sementes positivas na vida de cada criança. Move-nos a esperança de que talvez não possamos perceber no momento os frutos da sementeira, mas confiamos que a colheita é segura.
A nossa missão educativa enfoca-se em conseguir, no meio desta realidade, um espaço de interculturalidade, solidariedade e acolhimento com o diferente, onde os valores do respeito mútuo, a dignidade e a responsabilidade sejam eixos que nos levem a conseguir a educação que queremos para eles. É um desafio, que vivemos em subida porque, muitas vezes, o ambiente e as características do nosso centro não nos permitem fazer tudo o que gostaríamos de fazer. No entanto, é a tarefa diária, viver contracorrente; esforçando-nos por transmitir uma cultura de paz e de diálogo. Tornar credível o ideal, de que é possível viver sem violência, onde todos nos respeitemos, onde todos assumamos a nossa parte de responsabilidade para conseguir essa mudança que necessitamos.
Assumir nas nossas mãos o desejo de mudança e, trabalhar para tornar possível isso que queremos para as nossas vidas, é o que a família de Solher pretende transmitir a todos os que chegam ao nosso pequeno centro educativo.
O trabalho desde e com a família é uma opção irrenunciável que assumimos com cada criança que pertence à nossa escola. Entendemos que não pode haver transformação real, se não se faz em conjunto com a família e a escola. Este trabalho é dos mais satisfatórios, mas também dos mais desgastantes. Acreditamos na formação integral que envolve toda a realidade das crianças. Acreditamos nos processos, apesar de que alguns sejam mais lentos e uns mais complexos que outros. Terá sempre sentido inverter energias e esforços por conseguir avançar, um passo de cada vez, neste árduo caminho educativo.
A recompensa a temos todos os dias, ao ver os rostos das nossas crianças cheias de vida, com uma luz de esperança de que tudo pode ser melhor para eles e para as suas famílias.
Solher a nível de planta física, é pequeno, mas o trabalho quotidiano é significativo. Nos alegra ver que somos como essa casa pequena e acolhedora onde cabemos todos e todas: pessoal do centro, meninos e meninas, as suas famílias e a comunidade.
Maria Toríbia e Denia,
Membro da Equipa de Gestão de Solher
República Dominicana