NOS 50 ANOS DO PROJETO NOVA VIDA EM GUATEMALA

Há 66 anos, uma menina de seis chegou ao Colégio Imaculada em Coban, Alta Verapaz. Essa menina era eu, e as irmãs que levavam o colégio eram as Missionarias Dominicanas do Rosário. Eu estava morta de medo porque não sabia o que era aquilo. Nessa altura as irmãs usavam uns vestidos que lhes cobria tudo, só se lhes via as mãos e a cara e eu nunca havia visto coisa semelhante. O meu papá havia morrido há 6 meses e eu ainda estava muito triste porque me fazia muita falta.

Nesse colégio e com essas mulheres raras encontrei o amor de Deus, o da Virgem Maria e o respeito a muitos santos e pessoas exemplares. Estas irmãs ensinaram-me a fazer a minha cama, a manter as minhas coisas ordenadas, a comer o que havia na mesa, a respeitar e a ajudar as minhas companheiras e também a encontrar a Deus em tudo e em todos.

Trinta e quatro anos mais tarde, voltei a tocar à porta da casa das irmãs, agora na zona 8 da capital de Guatemala. Nesta, eu já era uma mulher com dois filhos e em processo de divórcio.

As irmãs acolheram-me com o mesmo amor com que me haviam acolhido aos cinco anos e meio, estenderam os braços e deram-me amor, compreensão, responsabilidade e o trabalho que me devolveu a vontade de viver.

O trabalho era o Projeto Nova Vida. Este projeto abriu-me os olhos à forma de vida do povo da área marginalizada da zona, levou-me a conhecer professores magníficos, valentes e decididos pais e mães de família, mulheres de ferro que enfrentavam cada dia o que a vida lhes trazia e a muitas crianças, muitas…

Não posso esquecer o médico que atendia a clínica na zona 8, a enfermeira Berta; a contadora, Aura Marina Vides; a trabalhadora social, a dona Luz, encarregada da limpeza e a Carlos, o guardião das instalações. Todos formávamos uma grande família.

O projeto Nova Vida também me aproximou de um homem muito especial, alguém que me parecia inteligentíssimo, lindíssimo e todo coração. Esse homem era o psicólogo que ajudava a algumas pessoas no projeto e com quem estou há 39 anos casada. Nova Vida me deu-me muito.

Fui testemunha do imenso trabalho da mãe Amábilis na Colónia Nova Vida no de Coy, a organização, capacidade de administração e o carácter firme e decidido da Irmã Matilde que levava o consultório e o refeitório; e a entrega total da Irmã Dolores que, pelas suas crianças e jovens de Fé e Alegria no de Coy e a zona 10, dava a vida. A Irmã Pilar era essa presença calada e serena que levava o colégio da zona 8 e se preocupava para que tudo funcionasse bem e ainda ficava tempo para animar e acompanhar a cada uma de nós. Todavia guardo algumas das suas cartas. Têm mais de quarenta anos e, ainda, as leio às vezes para recordar que Deus está em tudo e em todos e que a força que move o mundo é o amor. Definitivamente, a presença de Deus, esse Deus que não só está nos altares, como no coração de cada um de nós esteve, está e sempre estará.

Hoje celebramos os 50 anos do Projeto Nova Vida e para muitos, hoje começa um novo projeto. Hoje são outros rostos, são outras as irmãs, professores, pais, mães e crianças que um dia celebrarão os 100 anos da Nova Vida. Porque Deus permanece em cada um de nós. A vida continua.

Tenhamos uma oração especial, pelas irmãs, Amábilis, Matilde, Lúcia e Dolores, também por Lígia Vargas, Aura Marina Vides e a querida Sandrita Berducido. Deus as tenha na sua Glória.

Não esperemos que Deus baixe a dizer-nos o que temos que fazer.  Escutemos a esse Deus que levamos dentro que nos diz que somos filhos seus, criação sua, que nos diz que valemos muito e que podemos dar muito e façamos realidade o nome deste projeto.

Obrigada, Irmã Pilar, por tudo, por tanto. Você foi o instrumento que Deus usou para me ensinar o que é o amor, a paciência, a compreensão, a alegria, a responsabilidade.

Obrigada, Beata Ascensão Nicol pelas Missionárias Dominicanas do Rosário,

Obrigada, Projeto Nova Vida.

Obrigada Senhor, por tudo.

Lúcia T. Varona, Dra. Em Educação Multicultural

Docente Sénior na Universidade Santa Clara

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